segunda-feira, agosto 25, 2025
HomeNotíciaA era da percepção: o campo invisível onde se vencem eleições

A era da percepção: o campo invisível onde se vencem eleições

Por Anderson Rosa

Na política contemporânea, não é a realidade que elege; é a percepção construída sobre ela. Essa verdade, embora desconfortável, é respaldada tanto pela prática quanto pela ciência. Pesquisas em neurociência e psicologia política, como as de Drew Westen em The Political Brain, mostram que o cérebro do eleitor decide com base em emoções e depois busca razões lógicas para justificar essa escolha. Em outras palavras: a narrativa antecede o argumento, e a emoção molda a razão.

Esse conceito ecoa os ensinamentos de Nicolau Maquiavel, que já alertava em O Príncipe que “os homens em geral julgam mais pelos olhos do que pelas mãos, porque todos podem ver, mas poucos tocar”. A política, portanto, sempre foi um teatro de percepções. A diferença é que, hoje, o palco se multiplicou em milhões de telas, com algoritmos potencializando emoções e moldando consensos.

Do mesmo modo, Sun Tzu, em A Arte da Guerra, ensinava que a vitória depende de dominar não apenas o campo visível, mas também o invisível — “a suprema arte da guerra é subjugar o inimigo sem lutar”. Nas campanhas modernas, subjugar sem lutar significa moldar a narrativa antes que o adversário reaja, criando um ambiente onde cada fato é interpretado sob o prisma que favorece o protagonista.

Narrativa como ativo estratégico

A percepção não é apenas um efeito; é um ativo estratégico. Quem a domina controla:
• O debate público, direcionando o que se discute e o que se ignora;
• A emoção coletiva, transformando sentimentos difusos em capital político;
• A autoridade simbólica, elevando um candidato ao status de líder inevitável.

Esse fenômeno explica por que candidatos com entregas sólidas, mas sem narrativas, fracassam, enquanto outros, mesmo com resultados modestos, ascendem com força.

O exemplo prático
• Lula venceu 2022 porque, além do discurso econômico, ofereceu uma narrativa de reconstrução emocional do país.
• Bolsonaro, por sua vez, construiu uma base resiliente porque transformou seus eleitores em uma comunidade engajada contra um “inimigo comum”.
• Em Sergipe, Fábio Mitidieri entendeu cedo que comunicação não é informar, mas emocionar — e converteu gestão em conexão. Já Valmir de Francisquinho, mesmo enfraquecido institucionalmente, manteve um núcleo de apoio fiel por sustentar uma narrativa clara: a de um “homem do povo injustiçado”.

A lição para quem disputa poder

A batalha política atual não é apenas por votos, mas por significados. O eleitor não se move apenas por promessas, mas pelo que acredita que um candidato representa. Nesse ambiente, dados, entregas e discursos só são eficazes quando encaixados em uma narrativa que desperte emoção e ressoe com a percepção coletiva.

Quem subestima esse campo invisível repete os erros dos que, na história, perderam não por falta de força, mas por falta de estratégia de percepção. Como diria Sun Tzu, “a guerra é vencida antes de ser travada” — e, hoje, essa vitória se define na mente e no coração do eleitor, muito antes da urna.

Most Popular